sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A Dama da Noite.

Parece que entramos numa fase de analisar adaptações, né? Não que eu esteja reclamando... Tá, estou, mas só por puro esporte. Não é algo para ser levado a sério.
Analisar adaptações de textos que eu conheço (e gosto) é difícil porque eu busco alguma semelhança com o original. Eu quero que o novo autor tenha capturado pelo menos um pouco do "feeling" que o original tinha. Se ele conseguir ultrapassar isso e criar uma obra pessoal a partir do texto, melhor ainda.
Dito isso vamos falar do curta A dama da noite, com Gilberto Gawronski e dirigido por Mário Diamante, baseado no texto homônimo de Caio Fernando Abreu.
Vou começar com uma pergunta , e ela vai fazer mais sentido para quem já conhece o texto: Por que diabos todo mundo caracteriza a "dama" como um homem travestido? Sério, acho que isso ultrapassa o âmbito do texto e entra no fetiche pessoal do realizador. Eu já vi mais de uma adaptação desse texto feito dessa forma e nenhuma chegou ao ponto do texto, nem jogou uma nova luz sobre o original. Sempre se resumiu a uma bichice exagerada.
Talvez porque o personagem do travesti, como nós (classe média apavorada) o conhecemos e caracterizamos, seja algo fraco para conceber a cria de Caio Fernando. O personagem do conto é um simulacro, fato. Mas é um simulacro que demonstra lampejos de humanidade e sentimento crus, por vezes excessivamente bregas. É o contrapeso emocional que seus personagens encontram para tornar suas vidas suportáveis.
Eu sempre vi o personagem do conto como mulher. Talvez porque eu nunca tenha encontrado um travesti que me mostrasse, em cena, um oco emocional daquele nível. São cruezas encobertas de esperanças. E o ator não faz isso.
Sem contar que o fato de todo o texto do conto se resumir a uma performance de drag queen não ajuda, né? E quero dizer isso literalmente, a trama se desenrola assim.
Tem gente que gosta de coisas bem construídas, estruturadas. A mim, elas não incomodam, são até prazerosas de se ver. Mas sem sangue, sem vida interna, não valem o meu tempo. É assim que o filme aparece: Tudo faz todo o sentido. Quase nada vaza. E é só bichice.
A maior parte dele.
Existem dois momentos pelos quais vale a pena assistir o curta. O primeiro é uma interrupção no monólogo do protagonista por uma garota. E isso dá uma pontada naquele lugar do seu peito onde você não lembrava que tinha guardado aquela ânsia mal resolvida. Aquela mesma.
E o outro momento é o final. Ah, que momento delicado e cortante. Talvez porque não tenha sido tirado do A Dama da noite e sim de Harriett, outro conto de Caio Fernando Abreu. Diga-se de passagem, fiquei morrendo de vontade de ler esse conto. Talvez o diretor devesse ter feito um curta desse último. Ele captou melhor o cerne da coisa e ainda deu um toque pessoal.
Ah, acabei de ler o conto. E é lindo.
Acho que não tenho como concluir isso aqui bem. Me veio aquela dor que ataca vezenquando.

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