quarta-feira, 26 de março de 2008

A Gênese Ordinária.

Como começo falando desse espetáculo que me deixou sem fôlego? Pela sinopse eu não dava muita coisa. Sabe como é, esse cinismo moderno, especialmente em relação ao teatro. Todo mundo acha que ser ator é só subir no palco e ler um texto (o que às vezes funciona). Mas na entrada da peça Amélia (tosca, por sinal) me deram o folder. E lá tinha escrito: Artaud/Grotowski. Quem não conhece Artaud nem Grotowski, eu poderia mandar à merda. Mas como sou um cara legal (e como tenho consciência da minha ignorância. Fazem mais de 8 meses que eu não vejo TV) vou postar uns links lá embaixo.

Voltando ao assunto.
Primeiro pensamento: Será que esse cretino não sabe que Grotowski não bebeu da fonte de Artaud e sim da de Stanislavski e seu método de treinamento para o ator?

Segundo pensamento: Como seria um bom espetáculo com base em Artaud e Grotowski?

Terceiro pensamento: A crítica compara esse cara (Antônio Mello) a Jeff Weiss. Mas quem porra é Jeff Weiss?

Enfim, resumo da história, eu acordei cedo (e pra quem passa o dia caminhando com uma mochila nas costas pela cidade de Curitiba, fumando, 8:00 da manhã é cedo) e fui ver a peça às 12:00.


O que foi aquilo? Minha Santa Madre Igreja.

Eu entrei no teatro, me sentei na frente do palco e a peça começou. Primeiro, tocou uma música que eu não reconheci e o ator atravessou o palco com um bastão amarrado às costas. Ok, belo domínio do corpo, ele realmente parece que está numa corda bamba.

As luzes se acendem. É isso?

As luzes se apagam novamente e a cena se repete para o outro lado.

As luzes se acendem.

Ok, ok, eu conheço teatro conceitual, mas isso é piada comigo, né?

Pela terceira vez, a cena.

Mas que porra é essa? Houve algum problema nos bastidores? O ator está tirando uma com a nossa cara?

Aí ele quebra nossas pernas. Filho da puta.


O que se segue são orações, impropérios, engulhos, sagrações, pedidos feitos de joelhos, palavrões, bençãos, hóstias e cus.

Isso mesmo. Cus. Cu no plural.


E é lindo.

E a música? Quando começa a tocar, perto do final, "CABEÇA, CABEÇA, CABEÇA DINOSSAURO"?


Esse cara me violentou, me bateu, me acariciou, me beijou na boca, me cuspiu hóstia mastigada na cara. Sem me tocar.

Praticamente sem sair do foco de luz central do palco.


Eu não sei muito mais o que falar, exceto que quando acabou, eu não me lembro da útlima vez que eu bati palmas tão fortes. Quando levantei para aplaudir, tudo estava diferente. Leve. Estranho. Minha cabeça girava. Senti meu coração batendo. Coloquei a mão no pescoço. Taquicardia.


Meu Deus do Céu.


Como. Ele. Fez. Isso.



Eu não sei. Mas eu adorei.







*Links Sobre Artaud:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonin_Artaud (Sim, eu uso a wikipédia. E gosto. E ninguém tem nada a ver com isso.)
http://www.triplov.com/surreal/artaud_willer.html
E sobre grotowski:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jerzy_Grotowski (Wikipédia de novo aí.)
http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_2471.html

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