sábado, 29 de março de 2008

Laranja Mecânica.

Todos viram o filme (ou quase todos). Alguns poucos acabaram lendo o livro também. E aqui aparece a peça. Laranja Mecânica. O clássico que de onde saem centenas de referências desde o nome bandas obscuras até trechos de "Os Simpsons".

E como seria uma peça de Laranja Mecânica? O diretor pega o mais óbvio: uma escolha brechtiana, o que significa narrações dos personagens das situações e sentimentos, feita na peça através de dois microfones localizados um em cada canto do palco. Não que não seja apropriado para a história do jovem Alex uma forma de representação que aproxime e distancie o espectador em sucessão para que ele possa tanto se sentir dentro da história quanto possa ver de fora o estrago que está sendo causado pelo protagonista.

Mas na prática não é isso que ocorre.

Como a peça toda vai se desenvolver nos é mostrado no início. Nenhum problema até aí, já que é interessante que nos seja dado algo para nos ser retirado depois, nos fazendo sentir um sentimento de impotência próximo do de Alex. Mas eu não senti nada. Nem pena, nem vontade de ajudá-lo. Eu fiquei agitado com a energia forte do início da peça, com o rock pesado que saía das caixas, das movimentações dinâmicas personagens promovendo ultraviolência. E depois cansei. Não era mais interessante. A peça me dessensibilizou, me acostumou a um nível alto de energia e não me deu mais nada. O que se seguiu foi apenas uma série de tentativas de piedade ou comédia negra. Mas não passaram de tentativas. Nada mais me tocava. Eu adormeci perto do fim do primeiro ato, e depois do intervalo (desnecessário), voltei à história. Aí Alex se torna uma Laranja Mecânica, fica indefeso e todos nós conhecemos a história. Mas eu não me senti indefeso como o Alex, ou pensando em seu triste destino. Eu não ligava, não me despertava empatia, compaixão ou um mínimo de semelhança. Nada.

A peça, como saldo final, me deu alguns momentos de adrenalina e um personagem hilário, que era a mãe do alex (O vestido dela é impagável). De resto, não vale dez reais nem uma hora e quarenta da sua vida. Se você quer uma sugestão, assista o filme. Ou leia o livro. Ou vá até matar velhinhas na rua, mas não se dêem ao trabalho de ver, ou pior, encenar peças como essa.

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