sexta-feira, 28 de março de 2008

Prova Contrária.



Existem vários tipos de teatro. O mais conhecido e difundido é o Teatro Ruim, perto do seu companheiro, Teatro Cretino. Mas como eu não me aventuro nesse último (que inclui peças como Cinderela: A história que a sua mãe não contou) eu acabo assistindo, em sua maioria, Teatro Ruim.


Não que eu seja arrogante, porque nada do que eu fiz em teatro até agora eu acho bom. Eu sou é chato.


Enfim, o Teatro Ruim tem várias vertentes, entre elas o teatro adaptado de romances. Especialmente quando o romance envolve descrições mirabolantes e o grupo tem que usar o distanciamento do teatro épico (onde o ator narra a história) para suprir sua falta de recursos ou criatividade. Ou ambos.


E a outra possibilidade do romance ou conto é quando este envolve dois personagens falando do passado em um cômodo simples. Oa dramaturgos( incrível chamar isso de dramaturgo, mas enfim...) acham que é só colocar os dois nesse cômodo de frente para a plátéia e fazê-los falar as mesmas coisas do livro. Ô anta. Na literatura a palavra escrita tem um dinamismo diferente. Fazer isso é como fazer um flashback no cinema. Na verdade, isso pode até funcionar, dependendo de uma conjunção de fatores, como o ator, a direção, etc. Porque eu acho que em teatro tudo pode ficar muito bom e tudo pode ficar muito ruim.



Após essa longa reclamação inútil, vamos falar da peça. Baseada no romance do escritor Fernando Bonassi (que já trabalhou com o Teatro da Vertigem), ela fala sobre uma mulher cujo marido desapareceu na época da ditadura e em 1994 (se não me engano) recebe uma indenização da Anistia ou coisa parecida. Com o dinheiro ela compra uma casa e quando está prestes a abrir o champanhe para comemorar a compra da casa e, por tabela, o desaparecimento do marido, ele aparece na porta. Premissa interessante, né? E o cartaz, como dá pra ver ali em cima, é bem interessante também, faz alusão ao título, à presença fantasmagórica do marido, etc.


Eu entro na peça. A atriz que interpreta a protagonista é alemã. Na verdade, a peça é originária de lá. Isso me empolgou. Até eu ouvir o sotaque desgraçadamente horrível da mulher. Parecia que estavam arranhando a parte interna do meu crânio com um garfo. Mas quando o marido entrou eu me empolguei novamente. A caracterização dele estava muito melhor que a dela. As olheiras, o porte de exilado. O olhar morto que ainda tem um pouco de ódio guardado no fundo. Aí eles começaram a dialogar sobre o que aconteceu.


E eu dormi por uma hora.


Quando acordei, eles ainda estavam dialogando sobre o que aconteceu. E ainda faltava meia hora de peça.


Então, acredito que como crítica isso aqui não vale muito, já que eu vi apenas um terço da peça. Ou talvez esse critério seja importante. Peças que fazem você dormir e quando se acorda você sente que não perdeu nada não valem a pena.

O pior foi o texto. O que eu ouvia era tão bom. A força do texto escrito era genial. Mas não foi (nem nunca é) o suficiente para sustentar um teatro, uma representação dele. O texto tem que estimular os atores para que eles criem uma leitura própria. Imagens próprias. Para que correlacionem o texto com outras coisas e criem vida no palco.

Isso não foi vida. Foi uma hora de sono e meia hora de tédio. Com um sotaque irritante o tempo todo. Não me surpreenderia se eu tivesse sonhado com o sotaque enquanto eu dormi, mas graças ao bom Deus, não foi o caso.

Se forem fazer uma leitura dramática, anunciem como tal. Mas não me digam que eu vou ver teatro. Uma hora e meia é tempo demais. E eu podia estar vendo uma peça do Caio Fernando Abreu.

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